A varicocele é a principal causa tratável de infertilidade masculina, presente em 15% da população masculina e em aproximadamente 40% dos homens com infertilidade primária (nunca tiveram filhos). Esse número pode aumentar para até 80% dos homens com diagnóstico de infertilidade secundária (que já tiveram filhos, mas não conseguem mais engravidar por perda da qualidade do sêmen).
Mas o que é varicocele?
A varicocele é a dilatação das veias que drenam o sangue testicular devido à incompetência das válvulas venosas, associada ao refluxo venoso. É a mesma doença que afeta mais frequentemente as pernas das mulheres, que nesse caso é conhecida como varizes dos membros inferiores e provoca dor e inchaço nas pernas. Outra doença gerada pela dilatação das veias é a doença hemorroidária, que são varizes na região anal e que provoca sangramento ao evacuar. Portanto pode-se chamar a varicocele de varizes na bolsa testicular, que pode provocar prejuízo para a produção de espermatozoides e em última consequência infertilidade.
Qual a causa da varicocele?
A varicocele é ocasionada pela incompetência ou até mesmo ausência congênita das válvulas nas veias espermáticas, ocasionando um refluxo do sangue venoso e a dilatação das mesmas, além do espessamento de sua parede muscular. Os pacientes com diagnóstico de varicocele muitas vezes costumam referir a presença de varizes nas pernas e até mesmo de doença hemorroidária, deixando evidente que as alterações venosas são sistêmicas e não somente restritas às veias do escroto. Existe também um fator hereditário a ser considerado, pois é muito comum na história familiar os pais também terem apresentado varicocele no passado.
Como se faz o diagnóstico de varicocele?
O diagnóstico é feito de uma maneira bastante simples: apenas com o exame físico bem feito. Quando houver dúvidas em relação ao diagnóstico ou na impossibilidade da identificação apropriada das veias, o exame de ultrassom de bolsa testicular com doppler colorido deve ser solicitado. Existem graus diferentes de varicocele: I (leve), II (moderado) e III (importante). Os graus II e III são os que podem comprometer a fertilidade.
No exame físico, o testículo em que incide a varicocele pode ter seu volume diminuído e muitas vezes ficar mais amolecido, mostrando claramente que está ocorrendo a perda de células produtoras de espermatozoides.
Por que a varicocele gera infertilidade masculina?
O testículo, para o seu perfeito funcionamento, deve estar sempre entre 20 e 30C abaixo da temperatura corpórea. Para que isso ocorra, a regulação térmica ocorre basicamente por três mecanismos distintos. O primeiro, e certamente o mais importante, é a função das veias saudáveis (sem varizes) em resfriar a temperatura do sangue quente que chega pela artéria testicular. Quando essas veias estão dilatadas e varicosas, elas perdem a função de resfriamento, gerando um aumento crônico da temperatura testicular. Para um melhor entendimento, é como se a serpentina (veias do testículo) do barril de chope estragasse e o líquido (sangue arterial) saísse apenas frio em vez de gelado da torneira para ser bebido.
O segundo mecanismo existente é a presença de uma bolsa testicular pendular e de musculatura de dartos e cremáster, mantendo os testículos mais próximos ou mais afastados da área abdominal, dependendo da temperatura existente. Por isso que no calor os homens geralmente ficam com o escroto mais afastado do corpo e no frio o escroto permanece mais próximo.
As glândulas sudoríparas (que promovem a eliminação de suor) presentes na bolsa testicular compreendem o terceiro mecanismo, eliminando o calor necessário para que o testículo permaneça em sua temperatura ideal.
O calor em excesso nos testículos promovido pela varicocele gera um aumento na produção de radicais livres que não consegue ser combatido adequadamente pelos sistemas antioxidantes. Esse desequilíbrio, por sua vez, gera o que conhecemos como estresse oxidativo. Esse ambiente testicular alterado traz prejuízos importantes à produção e à qualidade dos espermatozoides.
No espermograma isso pode ser constatado pela piora de todos os parâmetros seminais. E na parte clínica isso pode ser evidenciado pela dificuldade do homem em engravidar suas parceiras.
É possível prevenir a doença?
O aparecimento da varicocele não é possível prevenir, pois é uma questão hereditária associada à predisposição pessoal para o aparecimento das varizes. Entretanto, pode-se e deve-se prevenir os efeitos negativos que a varicocele pode trazer para a produção de espermatozoides e, por consequência, para o potencial de fertilidade futuro.
Sabe-se que a varicocele é uma doença tempo-dependente, ou seja: quanto mais tempo a varicocele agir, pior será para a função do testículo em produzir espermatozoides. Outra característica importante é que o aparecimento da varicocele ocorre junto com a puberdade, ao redor dos 12-13 anos. Desta forma, o acompanhamento do adolescente pelo urologista desde o início da puberdade pode levar a uma detecção precoce da varicocele. Assim que houver o primeiro sinal de detecção de que a varicocele possa estar trazendo prejuízo à função testicular, seja por alteração no espermograma, seja por redução de crescimento dos testículos, a cirurgia para a correção da varicocele deve ser indicada com brevidade.
A varicocele tem tratamento?
Sim. O tratamento deve ser oferecido para aqueles adolescentes ou homens adultos com varicocele grau II ou III que apresentam comprometimento de sua fertilidade, sendo sempre cirúrgico. A técnica preconizada é a microcirurgia subinguinal, com menos de 1% de recidiva e com taxas similares de complicações quando realizada por urologistas experientes na técnica. O espermograma costuma melhorar em mais de 60% das vezes, devolvendo ao homem um bom potencial de gravidez natural ou, caso não seja possível alcançá-la, melhorar a qualidade seminal para tratamentos com técnicas de reprodução assistida.
A infertilidade masculina é gerada apenas pela varicocele?
Não é apenas a varicocele que pode trazer prejuízo para o potencial fértil do homem. Obesidade, sedentarismo, infecção testicular por doenças sexualmente transmissíveis, infecção do testículo por vírus (o vírus mais famoso por gerar infertilidade é o da caxumba), tabagismo e o uso de drogas como maconha, cocaína e crack também estão implicados. Existem também outras fontes de agravo à produção de espermatozoides, como tratamentos com quimioterapia e radioterapia para tumores malignos. Doenças como tumor de testículo e testículos que não desceram para a bolsa testicular (testículos criptorquídicos) após o nascimento também estão associados a uma redução na produção de espermatozoides.
Fonte: SBU